quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

má (cula)

a eterna procura pelo fim aprazível
por palavras agudas

nos próximos cinco minutos
que nunca chegarão.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

blind girl

desligar os raios do sol,
abraça-los a soturnez da minh'alma e tentar um pouco de paz.
e só na escuridão conseguirei fugir de mim mesma e
dos monstros da minha solidão

optarei covardemente pela cegueira
fecharei os olhos a podridão que insiste em florescer


e clamarei por não sonhar

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

preciso parar de viver em versos

vingança

não deixarei mais que você me machuque
me humilhe
não permitirei que seu verbo pestilento me faça querer morrer

te calarei
vou silenciar sua violência
e arrancar suas cordas vocais

te mataria


se você não tivesse me arrancado as mãos

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

mãos dadas

roeria as suas unhas
uma a uma
a uma
a uma

mastigaria seus dedos
e comeria seus toques

digita-me sua devassidão



me dê a sua mão

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

adocica

era preciso envelhecer para adoçar.
para saber.
era 
preciso 
envelhecer 
para 
viver.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

das coisas que me saem fácil

um tanto de loucura que falta
e me assombram as flechas soltas em salas lotadas

de todo o sentimentalismo que me escorre
julgado barato
ao desgoverno d'alma 

sou toda carne
toda cólera
toda sua

diria que me dói te ver sofrer
que a dor me dá um imenso prazer


parcialmente nua
raivosamente pura
estupidamente burra


um tanto de medo que sobra
e desatina o espírito severamente  mal cuidado.




segunda-feira, 15 de novembro de 2010

neve

era tudo tão banal
mas ela era feliz.
e fim.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

encontro

me visto de dores que não sinto
para que assim você me veja através dessa tristeza
e me reconheça nos infernos que são teus. 

eu te procuro.
Desde que lhe criei




amor


segunda-feira, 4 de outubro de 2010

(re)


E pra começar, era o fim
Era preciso lidar com o desfeito
O pranto olhar e os anéis quebrados
A cara do desmanchar

Aprender novos paraísos,
Rir de velhas manhãs
tentar acreditar
Refazer
Remangar o rugido

E pra finalizar, um novo começo
Te conhecer em olhares forasteiros
O olhar sorriso e alianças fabricadas
Brincar de remontar

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

latência

primeiro aquela súbita mudança,
podia enxergar através do seu pescoço nu
os fantasmas que vigiavam o inseguro, o pranto mordido...

nesse momento
éramos outros 
éramos sóis

eu disse que me casaria contigo,
mas não te encontro mais,
apesar de te ver perto da poça por onde vejo o céu, o pranto e o latido...

desfizemos 

domingo, 22 de agosto de 2010

grande bobagem

castelos de (l) ego
que não me deixam sair
e não me suportam aqui dentro

terça-feira, 17 de agosto de 2010

insones dedos

A solidão sempre lhe soou familiar,
Aprendeu a conviver com o gigante tamanho da cama
Os pés gelados e o vazio do abraço
pelas noites vagava procurando aplacar dores que lhe sorriam pálidas, recordava-se de imagens dançando soltas
Ruidosas e plásticas,

possuia as unhas roídas e os restos daquelas flácidas canções imaginárias
anéis apertados contrastavam com a imensidão do seu corpo solitário
suas lagoas eram secas;
Repetidos abandonos
absinto
e versos desafinados

terça-feira, 10 de agosto de 2010

depois das 11

antes de tudo, eu precisava morrer

Passou das 5
Passou o dia
Parou a noite

E você não voltou

antes de tudo, mais nada

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

lugar nenhum

Estou exausta
E sei que você também está

Estou sangrando
E sei que você não sangra


Minha exaustão te quer estreito
A tua, te larga dos meus olhos
Para onde tu não tateies meu sangrar
Para onde o vento te carrega, eu não existo.

Guia-me contigo
até o lugar onde eu não existo?

quinta-feira, 29 de julho de 2010

imagens

O que me sustenta;
palavras que você vomitou antes de bater;
os retalhos do toque pardo
e o dourado 


o veneno que me acalenta
nas horas intransponíveis desse dia maldito
os restos de pedaços
e a ferrugem;

além das vespas,
que cospem amargo

as dores que insistem em permanecer

sábado, 10 de julho de 2010

solidão

habito um silêncio ensurdecedor
sinto calafrios nas noites mornas em que fujo da sua teia;
esquecida à margem da  moléstia
me sobraram as pernas amolecidas


o reverso e avesso desconcordante do que simulamos amor


...acabamos sozinhos

terça-feira, 29 de junho de 2010

outrem

Aqui estamos de novo sozinhos. Tudo isto é tão lento, tão pesado, tão triste…Logo estarei velho. E então, chegará o fim. Veio tanta gente ao meu quarto. Deixaram tanta coisa e não me disseram nada. Foram embora. Envelheceram, coitados, vagarosamente, cada um no seu canto."


L.F. Céline,

miss you

Confesso que tentei te ligar,
Ansiava por teus olhos me fitando
Pelo morrinhar das nossas brigas
a fúria desgovernada que lançou aquele cinzeiro
e do retalho eternamente marcado
Vejo você chegando,
reclamando da bagunça, trazendo aquela fome absurda e as risadas das bobeiras da vida
questionando minha infelicidade
Ora se culpando
Na maioria me julgando insana

versos repetidos soavam frescos,
foram tantas certezas
E não era para sentir tanta saudade
transbordou o descuido ao amor e
a beleza da cicatriz

pelo olho mágico percebo que não há ninguém no corredor
aquela velha labirintite piorou,
ando tropeçando nos buracos que você deixou...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

éramos

Tanta solidão tem me feito molhar as calcinhas

terça-feira, 15 de junho de 2010

"

...to do a dangerous thing with style, is what i call art." buk

segunda-feira, 14 de junho de 2010

isso

esse
monte
de
coisa
nenhuma

esses
restos
de
nada

esse
entulho
de
branco

monte
de
merda
de
monte

segunda-feira, 7 de junho de 2010

refazer

as cores tinham seu próprio respirar
os céus, acanhados, partiam-se
eram mágoas e árvores sem copas
nossas conversas entendidas em flores de leite
grudentos sonhos caramelos
e tanta fumaça degolando meus desejos

terça-feira, 1 de junho de 2010

agouro

a idéia era não percebe-la. mas, antevejo seu balsamo.
sinto minhas vértebras oscilarem. um sopro de pavor e meus olhos febris.

você dizendo que sou difícil.

não há esperança e ninguém saberá desenlaçar as fitas dos meus vestidos. ao contrário, me amarrarão com força àquelas camisas.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Ninguém morre disso...

Enganava-se sondando por seus sinais vitais; por aquela garrafa de gim
e gozava de lagartas entre suas pernas
Os dias eram frios , E tamanho clichê lhe arrancava o ar
As folhas embranquecidas eram um soco escancarando que havia se perdido

Confessou-se demasiadamente, em dúvida de amor, exagerou;
A quem anda em devaneios egocêntricos, quem lhe rouba seus sonhos calígrafos só por lhe lamber os pelos,

ao fim do gim ao meio dia ele partiu

Das poucas palavras lembrou-se que o desamor nunca é recíproco
Essa quase morte rapidamente a sorveu de sua quase vida;
Sentiu frio ; Medo e tentou em vão repetir aquela velha ordem:
NÃO MORRA NÃO MORRA NÃO MORRA

quinta-feira, 20 de maio de 2010

mesmo que tudo pareça bem

estou exausta.
exausta.
exausta.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

on my knees

Uma pequena parte de mim sempre deseja ir
Cair de joelhos e pedir por minh’alma ralada
Cuidar daquele velho cachorro doente que uiva desespero
Penso em voltar a cantar

Salvo minha surdez, te vejo em sonhos rendados
De mãos dadas, por vezes esboçando sorrisos mornos
Eu te conto meus segredos,
E posso sentir seus dedos em meus lábios, grandes

Estávamos lambuzados
De pernas amarradas
Pelas cócegas dos seus longos cílios
Pelas penas ainda que de mortos gansos

Deveria ter percebido

A garrafa vazia feita testemunha
Quando juramos juntos naquela noite quente de outubro
Partiu-se e cortou meus tímpanos


Uma boa parte de mim não consegue
Estou de joelhos ralados com a alma caída
Os uivos são lobos famintos da minha mente
Estou rouca de procurar voltar

domingo, 9 de maio de 2010

domingo,25 jan de 2009

De ti quero apenas que sempre me salve,
Almas em sincronia e
Sua pele pulsando junto a minha

segunda-feira, 3 de maio de 2010

errata

as minhas paixões entram pelo nariz
e saem pelos poros

sexta-feira, 30 de abril de 2010

sem fichas

Anne sentia a pele arranhada,
olhava através daquele monte de
coisa nenhuma e
por várias vezes tentou chorar

lembrou-se de quando ele chegou
carregando grandiosas doses de angustias
e não disse nada
as dores eram adornadas por prendas almadioçadas

e agora quem lhe abraça é o abandono
tudo está encardido de branco
o silêncio, de grande, ocupava toda a sala

- acabaram-se as doses e as fichas -

seu infinito era ali

sábado, 17 de abril de 2010

corpo, alma e mais

É mais que meu corpo
são minhas mazelas;

mais que meu desejo
são meus tragos

é meu sexo
pulsando

te pedindo para voltar
pedindo para beber
para não desfazer
te pedindo
pedindo

- malditos vícios -

domingo, 11 de abril de 2010

seguindo minha sombra

Desisti de tentar me convencer das borboletas, que dizem, azuis
Não me importa em nada as cores saboreadas na imensidão
Vou seguindo minha sombra
Carrego feridas expostas, jorrando abandonos e o fado empesteado do seu hálito fétido

Desisti de me livrar desse abismo, que vejo, branco
Não voltarei desse cinza que pintou meu oceano
Caminho para o nada
Acompanhada da sorridente solidão, e da constante sensação de morte salvação.

terça-feira, 6 de abril de 2010

por aqui

a maldade dança vestida de xadrez
laços gordos buscam algo que se perdeu
e incontáveis incertezas chegam montadas em seus grandes cavalos

de você restaram as digitais pelo meu corpo
pelos do teu peito febril
e o roxo que adorna meu olho esquerdo

rasgarei minhas entranhas para não permitir que o sangue coagule
menos funesto, seria expor aquelas tolices a qualquer que me cruzar
a dor dos olhos confronta meu peito mordido
e nada ficou inteiro
te enxergo no brilho dos estilhaços
dos meus olhos coloridos saltam lágrimas geladas


...volta...

sexta-feira, 2 de abril de 2010

a porta abre...

- Enfrentar medos é sempre bastante difícil, me disse Camille com sua voz terna.

Eu conseguia apenas sentir o gosto de sangue em minha boca e por algumas vezes, gotas escorriam.

- Você está se destruindo. O que faz com sua boca é o constante da sua vida. Camille olhava-me fixamente, com ternura e até certa compaixão.

Me percebia só, temia por minha sanidade. Toda minha tuberculose desejava aquele que me consumiu.
O que me restava, não conseguia deixar de odiar aquela mulher e sua tola compreensão diante da que invadiu sua cama.

sentia uma dor de mil dias
cria não existirem mais tentativas
agora
era entregar-se junto às laranjas apodrecidas
colher as ferrugens
e ir além

- Vou sempre além, Camille.
Sempre além.
Além
Eu sobrevivo apesar da compleição danificada.
Insisto diante do cadáver...

Nada pode ser mais triste, do que prosseguir quando não existem mais esperanças.

A porta bateu.
Escuro.
Fim.

segunda-feira, 29 de março de 2010

chafariz

minhas paixões saem pelo nariz

sábado, 27 de março de 2010

do meu epitáfio

Aqui jaz
Aqui jazz, porra nenhuma
Aqui rock'n roll


Natalia Razuk
15/08/1995

http://www.overmundo.com.br/banco/do-meu-epitafio

azul; dos pregos soltos

por vezes considero as cartas que não foram escritas
verbos que martelam seus azuis pregos soltos
cravados em minha cabeça moinho

os papeis se amontoaram alvos flocos de neve
e a incandescência indecente da lembrança do seu sexo em riste

E se fosse harmonia
se dois se tornassem um e aquelas tolas bobagens todas?
não existiram lágrimas ; Nem o pranto da solidão imperativa

noite dessas sonhei com castelos de grandes taças
líquidos de ebriedade
entornávamos jubilosos goles,
enquanto enunciava minha falsa asperez de carinhos

e o que se notava era a textura das coxas arrepiadas
a da grande caveira mexicana

me diziam maria louca

deparei-me com ângulos vazios
procurei abrigo em qualquer um dos cantos desesperados da sua casa

o azul
os pregos e
aquela sede

quarta-feira, 24 de março de 2010

rezo por ti

gostaria de arrancar meu coração com aquele velho broche de ouro...


todos os dias ela se curva em uma prece
escalando uma fé inexplorada
suas orações são na verdade dores derramadas,
travestis de uma falsa esperança

segunda-feira, 22 de março de 2010

tortas andanças

Ela não precisava saber aonde iam dar aquelas estradas,
o que importava era o fascínio da andança
o encontro com sapos coloridos e
a despedida daquele eterno lugar nenhum

estradas para Louise eram imagens serenas
o consolo a quem nunca pertenceu a seio qualquer
era dança para quem não ouve notas musicais
o movimento do espírito aleijado

e queria percorrer aquelas veredas, nas noites quentes e verdes em que, sozinha, imaginava a chave que encontraria pelo caminho.
Mesmo descompassada em sua trajetória torta, Louise gerundiaria;
nos sonhos daquelas noites, ela se desconjugaria da paralisia imperativa

eu arranco minhas roupa. você tira minhas dúvidas?

Ela arrancaria suas roupas à medida que ele fosse tirando suas dúvidas
lhe revelando a realidade, seria uma troca justa, afinal.
Ele deseja sua nudez com força semelhante a que aqueles questionamentos a desconcertam.

E depois de muito tempo ela dormiu tranquila, com a possibilidade de ter aquelas dúvidas arrancadas do seu peito e de deixá-los a mostra.
São só peitos.

Quando me descolar destas questões, me desnude. estarei livre,enfim.
Até lá me deixe quieta e bem coberta.

domingo, 21 de março de 2010

não há busca


É sempre buscando encontrar que perdemos tudo

- eu não me interesso a mim –

parte 563

Ás vezes cansa-me fingir que está tudo bem. Acender meu cigarro quando já nem te tenho mais ao meu lado.
De repente dei-me conta de que você nunca testemunhou o final de um cigarro meu.
Não sabe se meus tragos são longos, e nem que jamais aprendi a fazer rodelas com a fumaça.
Me cansei, mas não me importo.

E ainda me visto pensando em ser despida pelos seus olhos, por sua boca maldita.
É só cansaço e cansaço me dói as pernas. Elas parecem pesar toneladas
Mas tudo isso também vai passar. Essa cinzetude irá embora no instante em que você surgir.
E me odiarei por ter escrito essas palavras fracas, por me sentir desleixada comigo.
Todos essas enfadonhas, desalentadas e piedosas criações de minha ociosa mente deixarão minha vida no momento exato que você entrar. Nas minhas já cansadas, mas sempre abertas pernas.


Estou aqui para você. Sempre estarei.

paraisos mesmo que artificiais

São poucos os que permanecem selvagens.
Raros os que são livres.
Os que mantêm a excitação áspera de ser
Que caminham por estradas tortuosas.
Velejam solitários e doem.

Não conhecem verdades.
E sim, rastejam a procura de algum paraíso
Mesmo com feridas expostas lambuzando o chão de seus quartos fétidos.
Pois sabem que aqueles tumores serão eternos.
E quando esse dia passar, essa noite acabar e todo o sangue tiver sido jorrado
lhe restarão as baratas e alguns cristais.

E o que amedronta é ter de seguir
Prosseguir quando não há mais esperança
Sabendo que velejarei solitária
Que meu barco não tem leme
Que gritarei sozinha e andarei desacompanhada
não quero continuar
Mas não tenho para onde voltar.
Isso é sempre um caminho sem volta
é tudo silencio

-Os vulgares se entregam às jaulas da escravidão. Onde existe conforto. Onde tal desespero parece ter fim.-

sexta-feira, 19 de março de 2010

caçadores

Tenho galgado lágrimas tentando conseguir profundidade
A espera de algo de ar
tapando as arestas que bloqueiam o que me sobrou dos sonhos seus,
emboscando os olhos que me habitavam em busca de outro
de discordantes desvarios caçadores daquilo que me destruiu

-são traseiros transitórios, me disse um dia

-otario, nunca inventarão amor como o meu.

4:47 - fractal

Caiu-lhe sobre a fronte a maldição geométrica da solidão que vivia os últimos dias
Quadrados de dor e angustias circulares lhe cobriam o corpo enlanguescente
Andava retangulamente dentro daquelas paredes cúbicas
Meias encardidas
As coisas ocupavam esferas erradas e tomavam formas maldispostas
Esfumaçados rosados
Se deu conta de que estava velha demais para aquilo tudo
Trancou-se no quarto do apartamento vazio
Olhou pela janela os seios da poluição fúcsia
pulou misturando-se definitivamente àqueles espirais presenteados
pousou neve,
nua e repleta

das minhas entranhas

me equilibrar nos meios-fios desses insetos todos
amanhã não consigo
Sinto dores das fases de todas as luas
-astronauta-
Psicose imensidões e desertos
Verdades incertas
Errantes sobressaltos de lagartos
Amor
ou eqüipolente que valha tamanho ultraje

incompletude

Pense em grandiosas soluções antes de adormecer,
Louise
Consulte suas xícaras, arranhe seu Frances, vista-se de amarelo.
Procure não sonhar
Repita insistentemente aquele mantra
Respire
Reveja valores

Larguei noites inteiras pela metade
Livros nem começados me ensinaram mais que a opressão das cores sentidas
Saltei dentro de buracos cheios, salas vazias, mentiras agudas
E os males que me fazem companhia,
palavras dobradas e frases incompletas

dores de navios

a sensação é que as marcas ficam só em mim,
minhas dores devem ter âncoras
não desportam dos meus portos
tento inutilmente não me afundar


meus portos não tem navios
nos meus portos ficam ancoradas as dores de uma vida errada

às traças com carinho

escritos que nunca serão lidos
ficarão ali e servirão de banquete às traças
as mesmas que me corroem
alastram-se na minha solidão,
e minha cama atulhada de penas e mágoas tecidas
uivos de cães vadios e minhas unhas descascadas
além da lembrança do seu verbo pernicioso
está tudo desabitado, mas não há espaço para mais nada
a minha vida acaba aqui
quando os cães entrarem e devorarem meus restos
alguém fatalmente encontrará aquelas sobras de palavras carcomidas,


elas estão enclausuradas naquelas caixas
- as mesmas -
não vou chorar, eu sequei

vagas lembranças das pragas

Pouco me lembro daquilo tudo, passagens estranhas e areias vermelhas
Eu, tola, agradeci por me deixar te amar
Por nos flexionarmos na vontade lasciva das nossas carnes
Sua íris delusória me enlaçou
Me encantei na ilusão dos seus lábios
E eu, tola, bendisse aquela condição
Tudo aquilo lhe pertencia
Todo o mundo se resumia em ter-te entre minhas pernas
Pouco me lembro daquilo tudo, passagens alienadas, e alguns delírios ainda teimam em me enganar

Facínora do vôo,
As pontas dos meus dedos estão apodrecendo
Por onde passo derramo pedaços de tecidos
estou purificando
e procurando pelo ladrão de mim

conjuros dos nossos verbos

Quando acordei percebi que mais uma vez havia inutilmente tentado sair dessa rota
Procurado remanso entre as penas que permeiam minha mente
E em tempos assim o recurso mais sagaz é perder-se nas lacunas das lembranças de você
Ainda sei da sua vida. Eu sei porque me contam.
Eu sei, porque os caras que me comem sabem sobre você
Só não sabem o quanto você é imprescindível para eu me conjugar
os conjuros da nossa carne
nossos verbos
nossos porres
A vida segue, sem você ter ao menos me dito adeus
Meu nariz sangra e aquela tosse piorou consideravelmente

de tudo, o que me sobrou, foi a saúde flácida
E a lembrança dos dias ensolarados.

campo minado (girassóis)

Se eu tivesse no peito um sobejo de coragem
Um punhado de força
esperança de encontrar algo

Se eu conseguisse rasgar minha pele
Empinar minhas palavras

Se me restasse dinheiro
Eu não estaria sóbria, nem só

Se eu ainda tivesse a beleza da minha adolescência
E aquele frescor vaginal
Se minha boceta pulsasse como antes

Eu poderia me vestir com os girassóis que você me prometeu
Me despetalar

- E nos olhos a luz amarela dos girassóis?

Posso ver em tudo, tudo será iluminado por girassóis.

Eu provavelmente estarei chorando
E você estará de pau duro, arrependido de ter me entregue nua àquele campo minado.
Por algumas flores e corações partidos.

mesmo que podres

de quantas distorções são construídos um amor destruído
das respostas que não foram dadas e seguem transfiguradas de bagagem no coração de quem deixou
de quem ficou putrefando mágoas e culpas que não lhe cabem
um sem números de olhares que fixavam a mesma direção
quando os relógios paralisados pela dor que escaldava os corpos feridos

ir embora quando ainda se ama é para fracos
te digo:
- é preciso morrer atado, colado, mesmo que estejamos podres

Foi quando a porta bateu doída.

ela tentou demonstrar uma falsa força
acendeu um cigarro iluminada pelo lilás das lágrimas
os primas daquele cristal quebrado

ele dobrou a esquina sem olhar para trás
mais forte que ela
eles sempre são

dos olhos

Uma esfera de espinhos entala minha garganta
Flamejando
A janela entreaberta ferve aquela noite maldita
E eu sempre fui a que não dorme
Ardo meus castanhos olhos cansados...

II
tempos outros, maquiaria os ardidos olhos,
vestiria de plumas minha dor
tomaria danças ao sons dos goles intensos
e fortes de seus braços mornos

furiosamente só
Arrepiando sonhos que não são meus,
nada me alivia ...
...

Sou meu próprio funesto pesadelo