sábado, 27 de março de 2010

do meu epitáfio

Aqui jaz
Aqui jazz, porra nenhuma
Aqui rock'n roll


Natalia Razuk
15/08/1995

http://www.overmundo.com.br/banco/do-meu-epitafio

azul; dos pregos soltos

por vezes considero as cartas que não foram escritas
verbos que martelam seus azuis pregos soltos
cravados em minha cabeça moinho

os papeis se amontoaram alvos flocos de neve
e a incandescência indecente da lembrança do seu sexo em riste

E se fosse harmonia
se dois se tornassem um e aquelas tolas bobagens todas?
não existiram lágrimas ; Nem o pranto da solidão imperativa

noite dessas sonhei com castelos de grandes taças
líquidos de ebriedade
entornávamos jubilosos goles,
enquanto enunciava minha falsa asperez de carinhos

e o que se notava era a textura das coxas arrepiadas
a da grande caveira mexicana

me diziam maria louca

deparei-me com ângulos vazios
procurei abrigo em qualquer um dos cantos desesperados da sua casa

o azul
os pregos e
aquela sede

quarta-feira, 24 de março de 2010

rezo por ti

gostaria de arrancar meu coração com aquele velho broche de ouro...


todos os dias ela se curva em uma prece
escalando uma fé inexplorada
suas orações são na verdade dores derramadas,
travestis de uma falsa esperança

segunda-feira, 22 de março de 2010

tortas andanças

Ela não precisava saber aonde iam dar aquelas estradas,
o que importava era o fascínio da andança
o encontro com sapos coloridos e
a despedida daquele eterno lugar nenhum

estradas para Louise eram imagens serenas
o consolo a quem nunca pertenceu a seio qualquer
era dança para quem não ouve notas musicais
o movimento do espírito aleijado

e queria percorrer aquelas veredas, nas noites quentes e verdes em que, sozinha, imaginava a chave que encontraria pelo caminho.
Mesmo descompassada em sua trajetória torta, Louise gerundiaria;
nos sonhos daquelas noites, ela se desconjugaria da paralisia imperativa

eu arranco minhas roupa. você tira minhas dúvidas?

Ela arrancaria suas roupas à medida que ele fosse tirando suas dúvidas
lhe revelando a realidade, seria uma troca justa, afinal.
Ele deseja sua nudez com força semelhante a que aqueles questionamentos a desconcertam.

E depois de muito tempo ela dormiu tranquila, com a possibilidade de ter aquelas dúvidas arrancadas do seu peito e de deixá-los a mostra.
São só peitos.

Quando me descolar destas questões, me desnude. estarei livre,enfim.
Até lá me deixe quieta e bem coberta.

domingo, 21 de março de 2010

não há busca


É sempre buscando encontrar que perdemos tudo

- eu não me interesso a mim –

parte 563

Ás vezes cansa-me fingir que está tudo bem. Acender meu cigarro quando já nem te tenho mais ao meu lado.
De repente dei-me conta de que você nunca testemunhou o final de um cigarro meu.
Não sabe se meus tragos são longos, e nem que jamais aprendi a fazer rodelas com a fumaça.
Me cansei, mas não me importo.

E ainda me visto pensando em ser despida pelos seus olhos, por sua boca maldita.
É só cansaço e cansaço me dói as pernas. Elas parecem pesar toneladas
Mas tudo isso também vai passar. Essa cinzetude irá embora no instante em que você surgir.
E me odiarei por ter escrito essas palavras fracas, por me sentir desleixada comigo.
Todos essas enfadonhas, desalentadas e piedosas criações de minha ociosa mente deixarão minha vida no momento exato que você entrar. Nas minhas já cansadas, mas sempre abertas pernas.


Estou aqui para você. Sempre estarei.

paraisos mesmo que artificiais

São poucos os que permanecem selvagens.
Raros os que são livres.
Os que mantêm a excitação áspera de ser
Que caminham por estradas tortuosas.
Velejam solitários e doem.

Não conhecem verdades.
E sim, rastejam a procura de algum paraíso
Mesmo com feridas expostas lambuzando o chão de seus quartos fétidos.
Pois sabem que aqueles tumores serão eternos.
E quando esse dia passar, essa noite acabar e todo o sangue tiver sido jorrado
lhe restarão as baratas e alguns cristais.

E o que amedronta é ter de seguir
Prosseguir quando não há mais esperança
Sabendo que velejarei solitária
Que meu barco não tem leme
Que gritarei sozinha e andarei desacompanhada
não quero continuar
Mas não tenho para onde voltar.
Isso é sempre um caminho sem volta
é tudo silencio

-Os vulgares se entregam às jaulas da escravidão. Onde existe conforto. Onde tal desespero parece ter fim.-