quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

misericórdia

esgotei. não foi preciso vasculhar para encontrar esse monte de nada. por aqui, sujeira branca, espelhos quebrados e a falta do ar. lagartos sorrateiros passeiam e tecem meus olhos. pela fenda dos pesadelos crio asas de morcego e me viro do avesso.
agonizando. cuspindo maldições e flores.
ainda te procuro. 

terça-feira, 16 de outubro de 2012

1401

um lugar onde vocês nunca me encontrarão: em cima do muro

e do lado de cá (ou de lá) fica bem complicado conviver com quem monta na mureta

daí, prefiro os opostos

segunda-feira, 23 de julho de 2012

manoel

em meio ao cheiro vermelho
ele me fala da vontade de ser sincero novamente


como um piano em cima de mim
do lugar onde vem toda a música
e toda dor

genuinamente sangrenta
rasgada
e sozinha

da minha dor sei eu






quinta-feira, 31 de maio de 2012

Por um mundo sem sobrenome

Correndo o risco de parecer metida, babaca ou qualquer coisa que o valha, eu digo: Não tenho problemas com meu cabelo. Sei que 9 entre 10 mulheres sofrem diariamente tentando arrumar, tratar, adestrar e amansar a cabeleira. Não sofro desse mal. E se você pergunta se já sofri, a resposta é, sim já sofri. Sofri na adolescência, época de experimentações catastróficas, excesso de tinturas e produtos baratos, usados na tentativa de ter um visual hippie punk rajneesh. Mas passou, parei com produtos porcarias, com experimentações dignas da NASA e meu cabelo e eu hoje temos uma relação amigável e em alguns dias apaixonadas. Só que aí queridos amigos, começou outro problema, com um oponente bem mais poderoso. A indústria cosmética dos milagres, ou o exercito da salvação como eu costumo chamá-la. Comprar um shampoo virou um exercício de paciência. Simplesmente pela falta de produtos de boa qualidade para cabelos normais. Normais, sem tinta, sem tratamentos químicos, sem necessidade de recuperação e dos 7 componentes para chegar lá. (Confesso que esses shampoos me lembram aquelas matérias femininas dos passos para o orgasmo). Quero um shampoo bom, de cheiro agradável que não me faça promessas. Pode ser? E agora, correndo o risco de parecer machista e ser odiada pela população feminina eu digo: mulher adora uma promessa. Vinda de homem ou shampoo. De chás para emagrecer a absorventes. E por falar em absorventes, eles agora também são separados pela quantidade de sobrenome. ‘Sempre seca com abas fluxo intenso’. Ou ‘anatômico fino cobertura de algodão’. Cobertura? Prefiro em um doce. Poxa vida, não existe mais um absorvente para quem menstrua e só? Um fluxo normal, uma quantidade de dias ok e que possa trocá-lo de 2 em 2 horas. E se seu olho correu para ver se é uma mulher mesmo que está escrevendo, sim é. Adoro ser mulher, feminilidades e até algumas frescuras. Mas também gosto do simples, do shampoo Johnson de neném e daquele absorvente meio grossinho e sem aba. Quero um rímel que não trate meu cílios ( se cílios precisa ser tratado, o que será da gente? ) Gosto de livros, de folhas. De botecar e falar bobagem. E estou a espera de uma vida menos complicada, com menos sobrenome. Por cabelos que ás vezes acordam de mal humor e por mulheres que não precisam estar lindas todo o dia. Nem geniais, nem impecáveis sempre. Precisam estar felizes e sorrindo. Por quê? Porque felicidade na maioria das vezes não tem nem nome, quanto mais sobrenome.

terça-feira, 24 de abril de 2012

23/07

despertou rosnando. uivando de desejo.
molhada.
lembrou das paisagens quentes e do calafrios. arrepiou.                                    

a camiseta de malha, cortava o bicos de seus seios duros.                    
sangrava e se lambia.
de quatro, cheirou a ultima carreira e sentiu a boceta secar
abriu as pernas e se meteu a escova, esfregou-se com as cerdas rijas.
um gole de gim; respiração rápida; um corte profundo
o sangue misturava-se ao liquido quente que escorria por entre suas pernas
gemia de dor e uivava de prazer. lavou-se.
mordeu os lábios e sentiu arder o que lhe sobrava de coração
sem entender a linguagem dos sonhos, levantou-se
vestiu-se, fumou.



um dia a mais
de uma vida qualquer







segunda-feira, 5 de março de 2012

cicatrizada

munida de feridas doces e partidas
sonhadas lambidas comidas
feridas choradas, dançadas, curtidas
feridas repetidas

queridas escravas exaltadas, sonhadas
malditas
mal entendidas
carcomidas
roídas

feridas amadas lembradas

desejadas;
ferindo você
de saia rodada

quinta-feira, 1 de março de 2012

dor - parte 103

esgotei. não foi preciso vasculhar para encontrar esse monte de nada. por aqui, sujeira branca, espelhos quebrados e a falta do ar. lagartos sorrateiros passeiam e tecem meus olhos.
espero pelo seu último e longo suspiro, rápido e curto demais
balas são cuspidas pelos seus olhos
lembro do cheiro do gosto
e a beleza na nudez de uma alma aflita
maldita
que grita
por mais
um pouco
de paz.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

natimorto

pensar em você é como parir um poema . sofrido e que me arromba as entranhas. me estoura as vísceras, arrebenta por dentro. mas depois de expelido, mães invariavelmente lambem suas crias. mesmo sujas e gosmentas. nojentas aos olhos de quem não sente. ninguém passa impune a um parto. é preciso lidar com o feto não abortado. o pensamento nascido. e a conseqüência do filho da dor. é preciso sobreviver ao pensamento em você.

presença que falta

restos de coisas nenhuma. sombras de ninguém. corcundas da anunciação subitamente se erguem. paranoicos. e nada mais faz sentido depois de engolir aquela meia dúzia de tentativas raivosas. só gemidos sórdidos me trilham. a sujeira deixada e o caos da minha sanidade impiedosa.                               seu alimento está sangrando dilacerado.
fendas facas e fuidos

mate-me por favor 

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

(an) danças

Faziam-se danças daquelas pernas entrelaçadas
Pernas paralíticas
Membros que só se moviam para bailar os passos destes movimentos sórdidos
Bailarina da indecência incandescente que esmagava seu coração destruído
Era ardor, abrasador.
Sua visão cegava,
E ela se entregava
Mais uma vez se via naquela coreografia maldita
E dançava descontrolada o baile fúnebre que lhe mantinha viva