sexta-feira, 19 de março de 2010

caçadores

Tenho galgado lágrimas tentando conseguir profundidade
A espera de algo de ar
tapando as arestas que bloqueiam o que me sobrou dos sonhos seus,
emboscando os olhos que me habitavam em busca de outro
de discordantes desvarios caçadores daquilo que me destruiu

-são traseiros transitórios, me disse um dia

-otario, nunca inventarão amor como o meu.

4:47 - fractal

Caiu-lhe sobre a fronte a maldição geométrica da solidão que vivia os últimos dias
Quadrados de dor e angustias circulares lhe cobriam o corpo enlanguescente
Andava retangulamente dentro daquelas paredes cúbicas
Meias encardidas
As coisas ocupavam esferas erradas e tomavam formas maldispostas
Esfumaçados rosados
Se deu conta de que estava velha demais para aquilo tudo
Trancou-se no quarto do apartamento vazio
Olhou pela janela os seios da poluição fúcsia
pulou misturando-se definitivamente àqueles espirais presenteados
pousou neve,
nua e repleta

das minhas entranhas

me equilibrar nos meios-fios desses insetos todos
amanhã não consigo
Sinto dores das fases de todas as luas
-astronauta-
Psicose imensidões e desertos
Verdades incertas
Errantes sobressaltos de lagartos
Amor
ou eqüipolente que valha tamanho ultraje

incompletude

Pense em grandiosas soluções antes de adormecer,
Louise
Consulte suas xícaras, arranhe seu Frances, vista-se de amarelo.
Procure não sonhar
Repita insistentemente aquele mantra
Respire
Reveja valores

Larguei noites inteiras pela metade
Livros nem começados me ensinaram mais que a opressão das cores sentidas
Saltei dentro de buracos cheios, salas vazias, mentiras agudas
E os males que me fazem companhia,
palavras dobradas e frases incompletas

dores de navios

a sensação é que as marcas ficam só em mim,
minhas dores devem ter âncoras
não desportam dos meus portos
tento inutilmente não me afundar


meus portos não tem navios
nos meus portos ficam ancoradas as dores de uma vida errada

às traças com carinho

escritos que nunca serão lidos
ficarão ali e servirão de banquete às traças
as mesmas que me corroem
alastram-se na minha solidão,
e minha cama atulhada de penas e mágoas tecidas
uivos de cães vadios e minhas unhas descascadas
além da lembrança do seu verbo pernicioso
está tudo desabitado, mas não há espaço para mais nada
a minha vida acaba aqui
quando os cães entrarem e devorarem meus restos
alguém fatalmente encontrará aquelas sobras de palavras carcomidas,


elas estão enclausuradas naquelas caixas
- as mesmas -
não vou chorar, eu sequei

vagas lembranças das pragas

Pouco me lembro daquilo tudo, passagens estranhas e areias vermelhas
Eu, tola, agradeci por me deixar te amar
Por nos flexionarmos na vontade lasciva das nossas carnes
Sua íris delusória me enlaçou
Me encantei na ilusão dos seus lábios
E eu, tola, bendisse aquela condição
Tudo aquilo lhe pertencia
Todo o mundo se resumia em ter-te entre minhas pernas
Pouco me lembro daquilo tudo, passagens alienadas, e alguns delírios ainda teimam em me enganar

Facínora do vôo,
As pontas dos meus dedos estão apodrecendo
Por onde passo derramo pedaços de tecidos
estou purificando
e procurando pelo ladrão de mim

conjuros dos nossos verbos

Quando acordei percebi que mais uma vez havia inutilmente tentado sair dessa rota
Procurado remanso entre as penas que permeiam minha mente
E em tempos assim o recurso mais sagaz é perder-se nas lacunas das lembranças de você
Ainda sei da sua vida. Eu sei porque me contam.
Eu sei, porque os caras que me comem sabem sobre você
Só não sabem o quanto você é imprescindível para eu me conjugar
os conjuros da nossa carne
nossos verbos
nossos porres
A vida segue, sem você ter ao menos me dito adeus
Meu nariz sangra e aquela tosse piorou consideravelmente

de tudo, o que me sobrou, foi a saúde flácida
E a lembrança dos dias ensolarados.

campo minado (girassóis)

Se eu tivesse no peito um sobejo de coragem
Um punhado de força
esperança de encontrar algo

Se eu conseguisse rasgar minha pele
Empinar minhas palavras

Se me restasse dinheiro
Eu não estaria sóbria, nem só

Se eu ainda tivesse a beleza da minha adolescência
E aquele frescor vaginal
Se minha boceta pulsasse como antes

Eu poderia me vestir com os girassóis que você me prometeu
Me despetalar

- E nos olhos a luz amarela dos girassóis?

Posso ver em tudo, tudo será iluminado por girassóis.

Eu provavelmente estarei chorando
E você estará de pau duro, arrependido de ter me entregue nua àquele campo minado.
Por algumas flores e corações partidos.

mesmo que podres

de quantas distorções são construídos um amor destruído
das respostas que não foram dadas e seguem transfiguradas de bagagem no coração de quem deixou
de quem ficou putrefando mágoas e culpas que não lhe cabem
um sem números de olhares que fixavam a mesma direção
quando os relógios paralisados pela dor que escaldava os corpos feridos

ir embora quando ainda se ama é para fracos
te digo:
- é preciso morrer atado, colado, mesmo que estejamos podres

Foi quando a porta bateu doída.

ela tentou demonstrar uma falsa força
acendeu um cigarro iluminada pelo lilás das lágrimas
os primas daquele cristal quebrado

ele dobrou a esquina sem olhar para trás
mais forte que ela
eles sempre são

dos olhos

Uma esfera de espinhos entala minha garganta
Flamejando
A janela entreaberta ferve aquela noite maldita
E eu sempre fui a que não dorme
Ardo meus castanhos olhos cansados...

II
tempos outros, maquiaria os ardidos olhos,
vestiria de plumas minha dor
tomaria danças ao sons dos goles intensos
e fortes de seus braços mornos

furiosamente só
Arrepiando sonhos que não são meus,
nada me alivia ...
...

Sou meu próprio funesto pesadelo