sexta-feira, 2 de abril de 2010

a porta abre...

- Enfrentar medos é sempre bastante difícil, me disse Camille com sua voz terna.

Eu conseguia apenas sentir o gosto de sangue em minha boca e por algumas vezes, gotas escorriam.

- Você está se destruindo. O que faz com sua boca é o constante da sua vida. Camille olhava-me fixamente, com ternura e até certa compaixão.

Me percebia só, temia por minha sanidade. Toda minha tuberculose desejava aquele que me consumiu.
O que me restava, não conseguia deixar de odiar aquela mulher e sua tola compreensão diante da que invadiu sua cama.

sentia uma dor de mil dias
cria não existirem mais tentativas
agora
era entregar-se junto às laranjas apodrecidas
colher as ferrugens
e ir além

- Vou sempre além, Camille.
Sempre além.
Além
Eu sobrevivo apesar da compleição danificada.
Insisto diante do cadáver...

Nada pode ser mais triste, do que prosseguir quando não existem mais esperanças.

A porta bateu.
Escuro.
Fim.