louise tentava continuar a caminhar. a distância lhe sorria sarcástica. amarga. trôpega. os olhos dos transeuntes a atacavam como dentes cegos. lhe arrancavam a roupa. abaixava os olhos para não desviar. o mais difícil é caminhar sem saber para onde voltar. o mais simples era saber que não precisaria voltar. o fim. cristalino e mórbido. podre de velho.
o sangue que escorria pelo canto da boca era vitória. o liquido daquele monstro corcunda e impróprio. a lâmina insegura por onde ela quis se segurar.
depois de muito louise se viu livre tirou as botas. soltou os cabelos. a rua.
de presente minha solidão. cola na tua. amarra minha tristeza na sua insensatez. me procura no resto dos sonhos que conhecemos. nas sobras de quem fomos. cola minha prisão na tua vocação anistiada. no teu corpo que caiu em cima do meu medo de viver.
paisagens vermelhas. já estive aqui e senti todos esses prazeres mórbidos. dedilho o tempo que passou. fendas ainda marcam minhas areias. e ainda me calo quando abro as pernas. leio seus ensaios. escorro, sinto a pele quente e luto contra o pulso. absorvo palavras silenciosas e calo aos berros seus sorrisos mudos.. escrava de passos passados. condenada aos sonhos em lençóis impiedosos arrancaria seus olhos com aquele velho broche de ouro e junto ao meu peito dilacerado, descansaríamos
em troca, os braços mordidos, navegando na trilha enferrujada que escorria pelos seus pelos evocarei os sonhos, as promessas. nosso culto em busca de um deleite veloz que falsamente me preenchia. cria em fantasias reais. penas. consumia carnavais perenes. plenos. nas nossas fronteiras costuramos pesadelos. e era acalento. prolongo a dor, porque de tudo foi o que restou. me faz ser nós. te despenca em mim e me arrepia. espasmo que me traz à vida. caminha de mãos dadas ao que me aniquilou. flagelo lustrado e ânsia pela fricção busco tons de lilás em olhos alheios e saberei quais são os seus. conheço o corte causado por sua lambida áspera. a espessura do liquido que escorre entre as pernas. arrebentado os laços procuro construir nós com o resquício de nossas vísceras. digerindo estranhos. continuo aqui, na mesma esquina. prefiro apodrecer ao seu lado.
restos de coisas nenhuma. sombras de ninguém. corcundas da anunciação subitamente se erguem. paranoicos. me desfiz depois de engolir aquela meia dúzia de tentativas raivosas. só gemidos sórdidos me trilham. entre a sujeira deixada e o caos da minha sanidade impiedosa. sua comida está sangrando dilacerada.
as noites de blues me aconchegam. me levam a um lugar que é raiz e voo. me lembram porque e me questionam. posso parar ou caminhar léguas. e me fazem ter certeza de que sou a mesma. mas estou muito diferente. no final de tudo, sou uma garota do interior interessada em ouvir almas. e nada como o blues.